Aristóteles, no livro V da sua Metafisica, medita sobre a expressão: “aquilo pelo qual”. Essa expressão é muito usada quando, por exemplo, perguntamos aquilo pelo qual tal pessoa fez ou deixou de fazer alguma coisa, ou quando afirmamos que esse ou aquele é o motivo pelo qual isso acontece. O filósofo, ao refletir sobre essa expressão, diz que, quando a dizemos, estamos nos referindo, na verdade, à essência das coisas: de um objeto, de um fato, de uma atitude etc. E, parando para pensar, é bem isso que acontece. Quando perguntamos a alguém o motivo pelo qual ele reza, esperamos que nos diga a essência da sua atitude e, por consequência, aquilo que o leva a rezar. Quando perguntamos a um estudante o motivo pelo qual ele estuda, ele também irá nos falar da essência: aquilo que o leva a estudar.
Nesse caso, a essência é aquilo sem o qual qualquer coisa não acontece jamais. Exemplificando: retire de um estudante o motivo pelo qual ele estuda e ele deixará de estudar; retire da vida de um penitente o motivo pelo qual ele faz penitência e ele não mais se mortificará. Ao contrário, à medida em que esse mesmo penitente vai entendendo cada vez mais e vai fortificando o motivo pelo qual se mortifica, veremos como a qualidade das suas penitências desabrochará e ele será bem mais feliz naquilo que faz.
Da mesma forma, acontece com nossa vocação. Há um motivo pelo qual seguimos o chamado de Deus. Nossa vocação tem uma essência! E essa essência tem um modo peculiar: ela parte de um único ser que é Deus, mas se diz de forma particular e variada e, por isso, se encontra de tal forma no coração de cada um que eu não posso dizer o motivo pelo qual você segue sua vocação e somente eu, exclusivamente eu, posso dizer por que estou aqui no Seminário. Mas de uma coisa eu tenho certeza: quando alguém se recorda da essência da sua vocação, essa pessoa ganha um ânimo novo, vê seu caminho mais luminoso e qualquer dificuldade que se apresenta é pouco para que se cogite uma desistência. Tudo isso por que se tomou consciência daquela razão bonita e que é uma espécie de rocha para nós.
Se alguém ainda não sabe claramente qual é a razão pela qual se sente chamado a seguir a Jesus Cristo em determinado lugar é só parar e refletir um pouco. O que o impulsionou no início? O que você achou mais bonito quando olha a vida de uma pessoa que lhe é exemplo e segue um caminho parecido com o seu? O que renova suas forças diante da tribulação e não o faz desistir de trilhar o caminho? O que você quer ser? Repito: Todo chamado parte de Deus e é Deus, em última instância, nosso “motivo pelo qual”, mas cada um tem seu sonho particular a seguir no lugar em que se está. Qual é o seu?