O tempo pascal renova em nós a confiança de que a VIDA pode mais que a morte, de que VIDA é a palavra última e definitiva de Deus para toda a criação e, especialmente, para o gênero humano, criado à sua imagem, feito à sua semelhança. Esse vigor trazido pela Páscoa do Senhor, celebrado e experimentado, deve reverberar por todos os seguimentos das nossas vidas. Não pode se circunscrever à dimensão estritamente eclesial; deve transpor as paredes dos templos e os muros dos pátios eclesiais, para vicejar nas outras dimensões da vida.
A renovação trazida pelo Cristo Ressuscitado deve provocar em nós o anseio pela construção de novos tempos, nova realidade. A força da vida que removeu a pedra do túmulo e iluminou a história humana, deve atuar em nós para que busquemos a vida em abundância para todos; para que apoiemos todos os projetos que defendam a dignidade de todos. A vida com dignidade foi bandeira defendida por Jesus. Foi na oração, no contínuo diálogo com o Pai, que Ele sustentou seu ministério público. A oração propiciava o discernimento para a atitude mais acertada em qualquer circunstância. Esse diálogo, Ele o transformava em vivência nas diferentes situações de seu tempo. Imersos na atmosfera pascal, também somos convidados a manter esse contínuo diálogo com o Pai, para que aprendamos de Jesus a discernir o melhor caminho para a nossa vida e para a vida de todos. Jesus foi homem da compaixão infinita, mas também da crítica mordaz a tudo o que não se conformava à vontade de Deus. Sua vida e sua morte não se deram fora das questões religiosas nem tampouco das questões políticas. Ele não aderiu a nenhuma ideologia política específica, mas postou-se severamente contra o exercício da política que mata. Fez críticas mordazes àqueles que se apegam ao poder somente com o desejo de manipular, tiranizar e explorar: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim: ao contrário, aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos” (Mc 10,42-44).
Vivemos um momento crítico tanto na realidade mundial, quanto no nosso país. Estamos em meio a uma pandemia que ora mostra estar no fim, ora ainda dá repiques de recrudescimento; não bastasse isso, temos vários conflitos bélicos em atividade no mundo, o que leva milhares de pessoas a migrarem, seja em busca de uma vida melhor ou, unicamente, para salvar suas vidas; no aspecto econômico, uma inflação galopante que pesa enormemente sobre os ombros dos mais empobrecidos; uma prática comum da corrupção grassa em vários segmentos da nossa sociedade. A Páscoa do Senhor deve iluminar também essas realidades. A Páscoa nos chama a servir. A aurora daquele domingo que iluminou a humanidade deve ajudar-nos a ver quais caminhos e quais escolhas devemos fazer para que todos vivam com a dignidade de filhos de Deus. Este ano teremos em nosso país eleições para cargos executivos e legislativos, nas dimensões estadual e federal. A Ressurreição do Senhor deve reverberar também neste importante momento. Como nos ensina o papa Francisco, “devemos voltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre aquele pilar [da política saudável] devem ser construídas as estruturas sociais alternativas das quais precisamos” (FT 168). Se compreendermos a Páscoa somente como um evento passado nos anos 30 da era cristã, sem atualizá-la, não teremos entendido nada do que aquela vida e aquela morte significaram para a história da humanidade.
A vitória de Jesus sobre a morte deve nos encorajar a vencer todas as forças de morte que teimam em dominar a história. Estejamos de olhos abertos e ouvidos atentos!