O fundamento da oração interior é a presença de Deus em nós. Primeiramente há “presença de imensidade”, pela qual Deus está presente com a sua operação em todas as criaturas: “Ele, diz São Paulo, não está longe de nenhum de nós. Nele, de fato, vivemos, nos movemos e somos” (At 17,27-28). É a Divina presença tão essencial que, se cessasse, cessaríamos de existir.
Além dessa, há a “presença de amizade”, unicamente no fiel em estado de graça: Deus, já presente como criador, faz-se presente como Pai, como Amigo, como doce Hóspede; faz-se presente no mistério de Sua vida trinitária, convidando o fiel a viver em comunhão com as pessoas divinas: com o Pai, com o Filho, com o Espírito Santo. É a grande promessa de Jesus a quem o ama: “se alguém me ama, meu Pai o amará, e viremos a ele, e nele faremos morada” (Jo 14, 23). Ótimo método de oração mental tem o cristão que, tomando consciência dessa sublime realidade, recolhe-se no seu interior, para falar com Deus presente, vivo, operante em seu coração, e ali O busca, ama-O, a Ele se une, vive em sua intimidade.
“Goza-te e alegra-te em teu interior recolhimento com Ele, pois o tens tão próximo! Exclama São João da Cruz. Aí O deseja, aí O adora, e não vás buscá-Lo fora de ti, porque te distrairás e cansarás, sem poder encontrá-Lo nem tê-Lo mais perto do que dentro de ti” (Cântico Espiritual 1,8). À medida que a consciência da presença de Deus em nós se faz mais profunda, a oração interior se torna fácil, espontânea, verdadeira “fonte de água que jorra até a vida eterna” (Jo 4,14).
“Julgais, diz Santa Teresa, de pouca importância para uma alma distraída o entender esta verdade e ver que para falar a seu Eterno Pai e regalar-se com Ele não tem necessidade de ir ao Céu nem lhe é preciso clamar em altas vozes? Por baixinho que fale, está Ele tão perto que a ouvirá. Para ir buscá-Lo não precisa de asas: basta que se ponha em solidão e o contemple dentro de si” (Caminho de Perfeição 28,2).
Dom Félix
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (22ª Parte).