Como toda vida cristã, também a oração é fruto de luta e de conquista, exigidas por Deus como prova de boa vontade de sua criatura e em seguida premiadas com a facilidade do recolhimento interior. Então, “apenas se ponha a rezar, verá recolherem-se os sentidos naturalmente como abelhas que se encerram na colmeia para fabricar o mel” (CP 28,7). Assim estará livre para concentrar-se em Deus presente n´Ele e para entreter-se com Ele. Pode passar todo o tempo da oração em ato de fé, amor, adoração, jamais se saciando de admirar e contemplar a Trindade que nela habita e de oferecer-lhe suas humildes homenagens.
Mas se isso não lhe basta, pode aplicar-se a outros exercícios: “recolhida em si mesma, pode meditar a Paixão, pensar em Jesus Cristo e oferece-Lo ao Pai”. Ou então mais simplesmente, se entreterá com o hóspede Divino e “Lhe falará como a pai, como a irmão, como a mestre, como a esposo, ora de um modo ora de outro, e Ele lhe ensinará como contentá-Lo. Conte-Lhe suas penas, peça-Lhe remédio, reconhecendo-se indigna de ser chamada sua filha” (CP 2-4). E conclui Santa Teresa, “quem sabe encerrar-se desse modo no pequeno Céu de tua alma, onde habita Aquele que a criou vai por bom caminho e não deixará de beber da água da fonte” (CP 5).
Ó Verbo, Filho de Deus, fazeis-me saber que junto com o Pai e com o Espírito Santo estais escondido no interior de minha alma. Aqui, portanto, quero encontrar-vos, retirando-me em sumo recolhimento dentro de mim. Ó Senhor, meu bem sois Vós; nenhum outro há fora de Vós! (Sl 16,2)
Ó minha alma, pois que teu esposo amado é o tesouro escondido no teu campo, pelo qual o esperto negociante vendeu todos os seus bens (Mt 13,44), é necessário que tu, para encontrá-lo, esquecendo todas as coisas e afastando-te de todas as criaturas, te refugies no esconderijo interior e, fechada a porta atrás de ti (Mt 6,6), quer dizer, tua vontade a todas as coisas, rezes em segredo a teu Pai.
Fazei, ó Senhor, que permanecendo assim escondido convosco, possa amar-vos, gozar-vos e deleitar-me convosco, de modo superior a todas as expressões e sentimentos humanos (CE 1, 6-9).
Parece-me ter encontrado o meu Céu na terra, porque o Céu sois vós, Deus meu, e vós estais em minha alma. “Vós em mim e eu em vós”, seja este o meu lema. Que jubiloso mistério vossa presença em mim, neste íntimo santuário de minha alma, onde sempre vos posso encontrar, mesmo quando já não percebo sensivelmente vossa presença! Que importa o sentimento? Talvez estejais mais junto de mim quando menos o sinto. É aqui no fundo de minha alma que gosto de vos buscar. Jamais quero deixar-vos sozinho: seja minha vida contínua oração (Irmã Isabel da Trindade, Carta 107; 45).
Dom Félix
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (23ª Parte).