O escritor Rubem Alves afirma que “a gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa”. A escuta é o lugar em que as coisas mais importantes, porém mais simples e silenciosas, ganham o seu devido lugar. A escuta confere grandeza à própria escuta, amplia a capacidade de ouvir o que de fato importa.
Sabemos, contudo, que aquilo que faz mais barulho é o que chama mais a atenção e rouba-nos os ouvidos: um caminhão que se desloca vazio ou com meia carga faz mais barulho do que se for realmente cheio; uma carroça vazia, a percorrer as estradas, faz mais barulho que uma carroça cheia. O vazio é sempre mais ruidoso, pois as meias cargas, assim como as meias verdades, estão mais expostas ao atrito. A escuta vira mera audição e o lugar em que o amor brota da grandeza do gesto de ouvir torna-se mera audiência.
Igualmente, bem sabemos, que uma só árvore que tomba faz mais barulho que uma floresta inteira que cresce. Não importa o tamanho da floresta, uma só de suas árvores chama mais a atenção dos ouvintes pela sua queda que o crescimento de todo um corpo. Isso é o que acontece em nossas famílias, na política, nas nossas comunidades… não obstante o esforço do crescimento, se um cai, ele é quem se torna notícia.
Vivemos num tempo em que nos acostumamos com meias verdades, com meias cargas, com carroças vazias e discursos sem pretensão de sinceridade. O barulho absurdo surda os ouvidos pouco a pouco e, assim, só ouvimos aquilo que mais estrondo faz. Tem sido mais fácil ouvir a árvore que cai, em relação às florestas que, discreta e silenciosamente, crescem.
Mas é preciso voltar ao essencial. Só no lugar do silêncio, nas jornadas longas de silêncio e oração, a escuta pode amadurecer. Precisamos trocar a potência pela leveza do sopro, a exemplo do profeta Elias (1Rs 19, 11-13). À espera do Senhor Deus que iria se manifestar, vem o furacão, o terremoto, o fogo e a leve brisa. O estardalhaço devorador dos três primeiros se contrasta com a sutileza do vento suave. E é justamente nele que estava a presença de Deus que passava.
Talvez, estas quatro realidades eram, na verdade, interiores ao profeta. E, dentro dele, o furacão, o terremoto e o fogo impediam-no de perceber o Senhor passar, ou melhor, o Senhor passando continuamente. Elias ouviu a brisa suave – que estava também dentro de si – e, no silêncio, sentiu Deus. Elias não fez outra coisa além de exercitar o ouvido de seu coração, capaz de ouvir até o barulho silencioso de uma floresta que cresce.