“Jesus saiu de casa… uma multidão ajuntou-se…” (Mt 13, 1-3)
Com grande frequência os evangelistas nos mostram Jesus em ininterrupto ritmo de saída. Ele estava permanentemente disposto a ir à procura. Essa referência não é mera casualidade. Ela aponta muito mais para o anseio do Filho de Deus de encontrar e deixar-se encontrar. Deste movimento resultou o chamado dos primeiros discípulos; também houve percursos por toda a Galileia anunciando a Boa Nova do Reino; retornando para sua cidade trouxeram-lhe um paralítico; sempre em saída, passando por certo lugar, Jesus viu um homem chamado Mateus; ele entrou na casa de Jairo e, partindo dali, dois cegos o seguiram. Até mesmo a compaixão, um dos mais emblemáticos sentimentos de Deus revelados por Jesus, ele a revelou num contexto de saída: Jesus começou a percorrer todas as cidades e povoados. Ao ver as multidões, encheu-se de compaixão.
Introdução muito semelhante há para a parábola que versa sobre a Palavra: “Naquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se à beira-mar”. A julgar pelas linhas anteriores, são fortes os indicativos de que o evangelista queria oferecer muito mais que um detalhe informativo. Pode-se falar de um “princípio de atuação” que qualifica o anúncio do Evangelho. Não se tratava apenas de enunciar a mensagem. Para proclamá-la era necessário sair. Sua saída tinha um rumo bem definido. Não era um lugar religioso ou sagrado como a sinagoga. Era para um ponto no qual passariam todos, justos e injustos, curados e doentes, virtuosos e pecadores.
Tampouco o gesto de sentar-se é algo ordinário, com se fosse um gesto comum e sem importância. Não era, nem de longe, uma mera referência a uma posição física. Significava a atitude do mestre que se punha a ensinar. Fora assim lá na montanha, quando ele se pôs a ensinar os discípulos. Agora há um novo e importante passo: ele está a falar da Palavra não apenas para os discípulos. É para a multidão, precisamente lá onde muitos, de diferentes culturas e etnias, chegavam e partiam. A multidão, a margem do lago, a barca, apontam para um cenário muito plural. Assim era também a cidade de Cafarnaum.