A Campanha da Fraternidade deste ano, com o tema Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso, e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lucas 10,33-34), é um convite para a nossa profunda e real conversão, e para que descubramos quem é o nosso próximo. Na Parábola, Jesus apresenta três pessoas: um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros conhecem as leis de Deus e participam do culto no templo; o terceiro é um samaritano, ou seja, um estrangeiro desprezado, considerado pagão e impuro pelos judeus. No caminho de Jerusalém a Jericó, o sacerdote e o levita passam, um de cada vez, vêem um homem caído, inconsciente e muito machucado que ladrões derrubaram, assaltaram, bateram e abandonaram. A Lei de Deus determinava que o ferido fosse socorrido, mas os dois conhecedores da lei e frequentadores do templo passaram e não pararam, nos levando a pensar que nem todas as pessoas que frequentam a casa de Deus e prestam culto a Ele são misericordiosas e se dispõem a ajudar o irmão que está caído e necessitado. De repente, sacerdote e levita pensaram que próximo a eles seriam apenas judeus, conhecedores das escrituras, frequentadores do templo, familiares, colegas de trabalho ou vizinhos… Somente o conhecimento da Palavra de Deus não faz com que as pessoas automaticamente amem umas às outras; é preciso colocar em prática todos os ensinamentos nela contidos. Só há culto verdadeiro a Deus quando ele se traduz em serviço ao próximo. Ignorar o sofrimento do outro é ignorar Deus: se eu não me aproximo de quem sofre, eu não me aproximo de Deus.
No tempo de Jesus, o sacerdote e o levita eram vistos pela sociedade como homens de boa índole e que viviam para servir. Já o samaritano, era tido como aquele em quem ninguém apostaria nada. Mas, quando viu o homem ferido, o samaritano foi o único que não passou indiferente como os outros dois, que eram ligados ao templo: ele teve compaixão, a mesma compaixão com que Jesus sempre vem ao encontro de cada um de nós, mesmo com nossas más inclinações, nossos vícios, nossas infidelidades e nossos pecados. Jesus sempre é incondicionalmente próximo de cada um de nós, nunca nos ignora e nem abandona, pois somente ele conhece todas as nossas dores e sabe o quanto precisamos de sua ajuda. O samaritano se comportou como Jesus misericordioso, cuidando pessoalmente das feridas daquele homem estranho, levando-o para uma hospedaria e deixando dinheiro para que ele fosse assistido durante o período em que estivesse ausente. Essa parábola nos ensina que o amor e o cuidado, a compaixão e a misericórdia não são sentimentos vazios, eles significam aproximação e comprometimento, e tudo o que for necessário para nos aproximarmos do outro, para amar o próximo como a nós mesmos, ainda que esse próximo seja um desconhecido ou alguém de quem não gostamos, pois esse é o grande mandamento do Senhor. O samaritano era a imagem mais odiada na Galileia e na Judeia, mas foi ele que se tornou o próximo, o irmão, o resgatador daquele homem que foi vítima da maldade dos assaltantes. Imaginem o quanto essa parábola assustou a multidão que ouvia Jesus contá-la!
O mundo, a comunidade, a família, o local de trabalho, a sociedade, todos os ambientes precisam de bons samaritanos, pois podem ser eles os únicos que nos estenderão as mãos quando estivermos caídos, moribundos e necessitados! Mas, acima de tudo, preciso saber quem sou eu: será que sou aquele cristão que vai à Igreja, participa de algum grupo, movimento ou pastoral, mas que não se compadece e, quando vê alguém caído pelo caminho vê, olha para o outro lado e passa adiante sem oferecer ajuda? Ou sou um pecador que gosta de apontar os defeitos dos irmãos, mas me esqueço de tentar me libertar dos meus graves e inúmeros pecados? Há tanta gente ferida dentro da Igreja, que precisa de acolhimento, não de condenação… Todos somos um em Cristo e todos somos iguais perante a lei, mas será que realmente nos tratamos com igualdade? Às vezes, passamos e vemos um irmão caído à beira do caminho, ferido pelo uso da droga ou pelo abandono familiar, pela doença física ou espiritual, mas estamos tão apressados que não conseguimos enxergar, sentir compaixão, parar, ouvir e levá-lo a algum lugar, para que receba os cuidados necessários à sua melhora ou cura. Ver e passar adiante é muito mais fácil do que parar e ajudar, pois quando ignoramos a dor do outro, passamos adiante e não o ajudamos, não há comprometimento nem responsabilidade assumida. Mas não é isso que Jesus espera de nós. Ele quer que sejamos misericordiosos e amemos o outro como a nós mesmos, ao ponto de a dor dele nos ferir como se fosse a nossa própria dor. Para ter a vida eterna é preciso doar esta vida em favor dos outros, é necessário ser fraterno, é essencial se comprometer, amar, cuidar. O próximo é o destinatário do nosso amor, é a pessoa a quem se deve fazer o bem, sempre.