Cultivar e guardar a criação (Gn 2, 15)
Com o firme propósito de continuar chamando a atenção dos católicos, da sociedade brasileira e da classe política para a importância de revermos os modelos exploratórios das riquezas naturais, a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, provoca, por meio da tradicional Campanha da Fraternidade, reflexão, debate e desafios em torno dos ‘Biomas brasileiros e defesa da vida”.
O texto-base da cf-17 faz uma apresentação das características dos cinco biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal), apontando a localização, a biodiversidade, a sociodiversidade, a beleza, as fragilidades, os desafios, a contextualização política e a contribuição eclesial já encontrada em cada um dos biomas.
No exercício de sua missão profética a Igreja levanta-se mais uma vez (afinal esta não é a primeira Campanha da Fraternidade que trata desta temática) para denunciar e apontar caminhos de saída. Não o faz de forma leviana ou solitária, ao contrário, pisa no chão da história e fundamenta suas análises e propostas em estatísticas oficiais, dados científicos confiáveis e renomados estudiosos do assunto. Torna-se, uma vez mais, uma porta-voz corajosa em favor da vida e contra os sinais e sintomas da cultura de morte.
O objetivo principal que os Bispos do Brasil colocam para essa Campanha é o de “cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”, buscando aprofundar o conhecimento de cada bioma e se comprometer com suas populações originárias; reforçar o compromisso com a biodiversidade, as águas, o solo; comprometer as autoridades públicas; motivar uma conversão ecológica e contribuir com a construção de um paradigma econômico que preserve a vida em todas as suas dimensões.
É bom deixar claro que a preocupação desta campanha não se limita à preservação ambiental com valor exclusivamente dado pela importância da natureza. A Igreja Católica, por intermédio da cf-17, almeja despertar a sensibilidade social para perceber que em cada bioma existem pessoas padecendo de males terríveis decorrentes de modelos econômicos exploratórios que sugam impiedosamente as riquezas e, além de matarem a biodiversidade, matam também a sociodiversidade: Povos originários desses biomas sofrem históricos atentados que vão desde sua cultura e religiosidade até o quase-extermínio da população.
Entre os inimigos a serem conhecidos e enfrentados estão o desmatamento descontrolado e permanente das matas nativas; o avanço indiscriminado do agronegócio, especialmente voltado para a criação de gado e para monoculturas; a utilização de agrotóxicos fortes e agressivos que já apresentam sinais de contaminação de lençóis freáticos e de aquíferos. Tudo isto, é claro, motivado por um espírito de dominação que diviniza o lucro e sucumbe todas as formas de vida biológica, sociológica, religiosa, cultural etc.
É necessário parar com os desmatamentos (desmatamento zero); recompor as degradações dos biomas; ampliar a utilização de sementes crioulas; criar debates locais, regionais e nacionais que possibilitem melhor conhecimento da biodiversidade e da sociodiversidade brasileiras; organizar grupos que exijam dos parlamentares e administradores públicos leis e ações favoráveis à vida…
Todos podemos fazer algo, ainda que pequeno e simples! Vamos nos mexer. Vamos cultivar e guardar a criação com renovado espírito evangélico.