O livro escolhido para estudo no Mês da Bíblia em 2020 é o Deuteronômio, com o lema “Abre tua mão para teu irmão” (Dt 15,11). É um livro rico em reflexões morais e éticas, com leis para regular as relações com Deus e o próximo. É um livro precioso para que se possa compreender o processo de revelação de Deus: da concepção de um Deus severo para um Deus misericordioso. É o último livro do Pentateuco e funciona como um livro de memória de todo o conjunto da obra de libertação do povo de Deus liderado por Moisés.
“Deuteronômio” significa “Segunda Lei”, embora o livro não contenha nova lei, mas as leis dadas no Monte Sinai, agora revisadas e comentadas, dada às novas gerações, com toda a ênfase e repetição para salvar a Aliança de Deus com seu povo. É, portanto, o livro da travessia final para a conquista da terra prometida. São discursos dirigidos, oralmente, ao povo que foram posteriormente escritos e reunidos em forma de livro.
Destaca-se no Deuteronômio a preocupação em promover a justiça e a solidariedade com os pobres, o órfão, a viúva, o estrangeiro. São leis humanitárias, encontradas também no Código da Aliança (Ex 20-23). Portanto, o Mês da Bíblia deste ano nos faz olhar para a realidade eclesial e para a social, além de estar em sintonia com vários eventos e situações.
Na Bíblia hebraica, isto é, no Antigo Testamento, o Deuteronômio é chamado de “Palavras”, por iniciar com a frase: “eis as palavras que falou Moisés a todo o povo” (1,1). O título grego, Deuteronômio, vem da versão grega da Bíblia, chamada Setenta (LXX) ou Septuaginta. Esse nome significa “segunda lei” ou “cópia da lei”. Ele surgiu por um erro de interpretação de Dt 17,18, visto que os alexandrinos (de língua grega) traduziram a expressão hebraica “cópia desta Lei” por “esta segunda Lei”, sendo essa tradução assumida pelas demais traduções da Bíblia, em língua moderna.
O Deuteronômio é o quinto livro do Pentateuco e se apresenta como pausa entre a chegada do povo à Moab, fronteira da Terra Prometida, e conquista da terra. Nele, temos quatro discursos de Moisés, que fazem uma retrospectiva da história vivida, da libertação do Egito, da travessia no deserto, momentos que revelam a fidelidade de Deus, mas também a infidelidade do povo.
É o testamento de Moisés, que é deixado às novas gerações, que entrarão na Terra Prometida. Portanto, não é apenas memória do que foi vivido, mas traz recomendações que não poderão ser esquecidas quando o povo entrar em Canaã. O Deuteronômio é uma tentativa de ajudar o povo a tomar consciência de que a posse da terra não é resultado só do esforço do povo, de suas lutas, mas da fidelidade de Deus, que cumpre as promessas feitas aos patriarcas do povo de Israel. É por isso que Deus não desiste do povo diante de suas infidelidades, mas o convida a levantar-se e caminhar, confiando na promessa e na Aliança selada entre Deus e o povo.